Retrato de Nísia Floresta publicado em Mulheres Illustres do Brazil
NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA
( Rio Grande do Norte )
(Paripari, atual Nísia Floresta, 12 de outubro de 1880 - Bonsecours, França, 24 de abril de 1885)
Pseudônimo de Dionísia Freire Lisboa.
i uma educadora, escritora e poetisa brasileira. Primeira na educação feminista no Brasil, com protagonismo nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais. Defensora de ideais abolicionistas, republicanos e principalmente feministas, posicionamentos inovadores na época, influenciou a prática educacional brasileira, rompendo limites do lugar social destinado à mulher.
Capaz de estabelecer um diálogo entre ideias europeias e o contexto brasileiro no qual viveu, dedicou obras e ensinos sobre a condição feminina e foi considerada pioneira do feminismo no Brasil, além de denunciar injustiças contra escravos e indígenas brasileiros.
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IMPROVISO
ao distinto literato e grande poeta,
Antônio Feliciano de Castilho
Vate sublime, que os primeiros sonhos
Da juventude minha hás embalado,
Quando às margens do fresco Beberibe
Os teus primores d’arte eu decorava
Às ilusões entregue dessa idade,
Em que os risos de amor tanto seduzem!
Tu nos deixas enfim! e as plagas nossas
Ao verem-te sair gemem saudosas;
Gemem os corações dos brasileiros,
Que como meu reter-te não puderam
Nesta terra que ufana te incensara
Se o gênio aqui tivesse um templo seu!
Inclina triste a fronte, ó pão-de-açúcar,
Ao poeta que passa! ao gênio deve
A matéria imponente assim curvar-se.
Embalde indiferente ela se ostente,
A grande inteligência, que mar afora
Lá se vai!...nos corações nossos deixando
Da pungente saudade a dor acerba!
A LÁGRIMA DE UM CAETÉ
(Fragmento)
Lá quando no Ocidente o sol havia
seus raios mergulhado, e a noite triste
denso ebânico véu já começava
vagarosa a estender por sobre a terra;
pelas margens do fresco Beberibe,
em seus mais melancólicos lugares,
azados para a dor de quem se apraz
sobre a dor meditar que a Pátria enluta!
Vagava solitário um vulto de homem,
de quando em quando ao céu levando os olhos
sobre a terra depois triste os volvendo...
Não lhe cingia a fronte um diadema,
insígnia de opressor da humanidade...
armas não empunhava, que os tiranos
inventaram cruéis, e sob as quais
sucumbe o rijo peito, vence o inerte,
mata do fraco a bala o corajoso,
mas deste ao pulso forte aquele foge...
caia-lhe dos ombros sombreados
por negra espessa nuvem de cabelos,
arco e cheio carcaz de simples flechas:
adornavam-lhe o corpo lindas penas
pendentes da cintura, as pontas suas
seus joelhos beijavam musculosos
em seu rosto expansivo não se viam
os gestos, as momices, que contrai
a composta infiel fisionomia
desses seres do mundo social,
que devorados uns de paixões feras,
no vício mergulhados falam outros
altivos da virtude, que postergam
de Deus os sãos preceitos quebrantando!
Orgulhosos depois... ostentar ousam
de homem civilizado o nome, a honra!...
(...)
Era um homem sem máscara, enriquecido
não do ouro roubado aos iguais seus,
nem de míseros africanos d'além-mar,
às plagas brasileiras arrastados
por sedenta ambição, por crime atroz!
Nem de empregos que impudentes vendem,
a honra traficando! o mesmo amor!!
Mas uma alma, de vícios não manchada,
enriquecida tinha das virtudes
que valem muito mais que esses tesouros.
Era da natureza o filho altivo,
tão simples como ela, nela achando
toda a sua riqueza, o seu bem todo...
O bravo, o destemido, o grão selvagem,
o Brasileiro era... - era um Caeté! -
era um Caeté, que vagava
na terra que Deus lhe deu,
onde Pátria, esposa e filhos
ele embalde defendeu!...
(...)
Ó terra de meus pais, ó Pátria minha!
Que seus restos guardando, viste de outros
longo tempo a bravura disputar
ao feroz estrangeiro a Pátria nossa,
a nossa liberdade, os frutos seus!...
Recolhe o pranto meu, quando dispersos
pelas vastas florestas tristes vagam
0s poucos filhos teus à morte escapos,
ao jugo de tiranos opressores,
que em nome do piedoso céu vieram
tirar-nos estes bens que o céu nos dera!
As esposas, a filha, a paz roubar-nos!...
Trazendo d' além-mar as leis, os vícios,
nossas leis e costumes postergaram!
Por nossos costumes singelos e simples
em troco nos deram a fraude, a mentira.
De bárbaros nos dando o nome, que deles
na antiga e moderna História se tira.
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Página publicada em março de 2022
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